sexta-feira, 15 de maio de 2015

Moro exerce "direito ao silêncio" durante lançamento de livro em São Paulo


Moro exerce "direito ao silêncio" durante lançamento de livro em São Paulo




Protagonista de um livro sobre o médico Roger Abdelmassih, a estilista Vana Lopes aguardava interessados em ouvir a história de como ela investigou por conta própria o paradeiro do homem que estava foragido depois de condenado à prisão por estuprar clientes. Mas a maioria da imprensa e do público esperava na tarde desta quinta-feira (14/5) a chegada do juiz federal Sergio Fernando Moro, que assinou o prefácio da obra junto com a mulher, a advogada Rosângela Wolff Moro.

Foram cerca de 30 minutos sem saber se ele iria mesmo aparecer no segundo andar da Livraria Cultura, na Avenida Paulista. “Ainda não foi confirmada [a presença]”, respondeu uma assessora, já espremida por fotógrafos e equipes de TV. Até que uma aglomeração apontou a chegada do convidado, que foi recebido com aplausos, flores brancas, gritos de “fora PT” e a primeira parte do Hino Nacional.

Moro sorriu e preferiu ficar num canto afastado, longe da mesa que reunia Vana Lopes, os autores de Bem Vindo ao Inferno — Claudio Tognolli e Malu Magalhães — e autoridades policiais que atuaram na prisão de Abdelmassih. Vana disse que não via problemas em dividir a atenção com o juiz responsável pelos processos da operação “lava jato”.

“Não acho que tira o brilho do lançamento nada que se fale em termos de Justiça. Porque o livro é uma história de autoajuda e justiça. Se todos estiverem buscando isso, tudo bem. O livro pode ser um lema disso sim.”

Rosângela Moro também respondeu a algumas perguntas. Só sobre o prefácio, na qual ela e o marido afirmam que, “ao se passar por outra pessoa, sempre mirando consequências cidadãs, Vana adotou o que se chama de dolus bonus: aquele bom dolo a objetivar (e buscar) o bem social supremo”. 

Moro saiu do evento cerca de 20 minutos depois de chegar, sem aceitar tirar retratos com fãs e seguido pelos próprios e por profissionais da imprensa no caminho até o elevador. Quando desceu, o grupo correu pelas escadas para encontrá-lo no térreo.

Ao ver a movimentação na saída da livraria, uma jovem perguntou para a amiga: "Quem é?". Recebeu a resposta prontamente: “Ah, é o juiz do mensalão!”

O juiz federal continuou sendo seguido porta afora, pela avenida Paulista. Ouviu gritos de “obrigado!” e “1, 2, 3, 4, 5 mil... queremos Sergio Moro presidente do Brasil!”. Entrou num táxi que estava parado no semáforo, sob o olhar surpreso do motorista idoso. Um manifestante abriu a carteira e disse que pagaria a corrida do taxista. Moro rejeitou. O carro virou pela rua Augusta, sentido Jardins, e a multidão começou a se dispersar.

Na livraria, já sem tumulto, personagens e responsáveis pelo livro continuaram os autógrafos. Alguns manifestantes tiraram fotos da mulher de Moro, que continuava ali. No fim da festa apareceu ainda o cantor Lobão.

Poucas palavras
Na coletiva de imprensa, Moro falou pouco:

ConJur - Em relação ao prefácio que seu marido assina junto, em que ponto ele ajudou a senhora a escrever [o texto]?
Rosângela Moro — Ele é sempre um grande parceiro meu em todas as decisões que tomei.

ConJur – O senhor escreve no prefácio sobre a existência do “bom dolo” para combater um monstro. Existe “bom dolo” para o combate à corrupção?
Sergio Moro — [Gesto de que não responderia]

Repórter 2 – O que o senhor achou dessa recepção tão calorosa?
Sergio Moro — Olha, é o seguinte: o evento hoje é o lançamento do livro. Eu vim só prestigiar isso e acho que vocês têm que prestigiar o lançamento, então vou pedir a compreensão de vocês.

ConJur – Mas tem um amplo público que veio prestigiá-lo, o que o senhor diz para essas pessoas?
Sergio Moro — Eu acho que é importante ter o apoio da população, é relevante. Mas realmente não vou fazer mais comentários.

Repórter 3 - Como o senhor viu esse ato?
Sergio Moro — Olha, como eu disse. O foco hoje é o lançamento do livro. Claro, a gente fica gratificado por ter uma recepção tão calorosa e atribuo a isso a simpatia das pessoas.

Repórter 4 - O senhor se considera um herói nacional?
Sergio Moro — Não.

Repórter 5 – Como foi ser recebido com status de herói?
Sergio Moro — Olha, o evento é sobre o lançamento do livro, eu só vim prestigiar. A gente fica feliz com essa recepção, mas eu não quero ser o foco da atenção.

Repórter 6 - Mas o senhor escreveu o prefácio, né?
Sergio Moro — Não, foi escrito pela minha esposa.

Repórter 6 - O senhor ajudou?
Sergio Moro — Eu sou um figurante.

Repórter 7 - O senhor pode falar um pouco sobre o livro?
Sergio Moro — Não, não vou comentar.

Obra
A protagonista de Bem Vindo ao Inferno (Editora Matrix), Vana Lopes, narra que pensou em suicídio depois de ter sido estuprada durante uma consulta, passar por problemas de saúde e separar-se do marido. Quando se pensava que o ex-médico estava no Líbano, ela decidiu investigar a localização de Abdelmassih. A estilista estudou Direito e até criou perfil falso em uma rede de relacionamentos para conseguir informações, depois repassadas às autoridades. Roger foi preso no Paraguai.

Segundo ela, todo o lucro com o livro será encaminhado para a ONG Vítimas Unidas, que reúne outras mulheres vítimas do ex-médico e planeja atender mais pessoas que passem por abusos sexuais. “Ninguém pode ganhar dinheiro com dores, nem eu com a minha própria vida”, afirmou.



Felipe Luchete é repórter da revista Consultor Jurídico.



Revista Consultor Jurídico, 14 de maio de 2015, 21h44

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